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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O MÍTICO E O ESCATOLÓGICO NA LINGUAGEM DA OBRA MACUNAÍMA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CASTANHAL
FACULDADE DE LETRAS
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS – HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

A IDENTIDADE BRASILEIRA EM MACUNAÍMA – O MÍTICO E O ESCATOLÓGICO NA LINGUAGEM DA OBRA MACUNAÍMA: A IDENTIDADE NACIONAL NO BERÇO POPULAR
Antonio Carlos Araújo da Silva1


RESUMO

Este nosso trabalho tem como pretensão levantar alguns aspectos da linguagem da obra Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade, sobretudo dando ênfase no discurso escatológico e no mítico como forma de fortalecimento da ideia de identidade nacional oriundo do seio popular. Para tanto, fizemos um levantamento de alguns capítulos do livro salientando o escatologismo e o mítico como fatores identitários de uma cultura nacional.

Palavras-chave: Mítico, Escatológico, Identidade nacional, Popular.


INTRODUÇÃO

Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, escrito por Mário de Andrade, é uma das obras referenciais da literatura brasileira. Com uma narrativa que oscila entre o fantástico e picaresco, entre o real e o imaginário, Mário de Andrade reelabora literariamente temas de mitologia indígena e visões folclóricas da Amazônia e do resto do país, principiando uma nova linguagem literária, deliciosamente brasileira apropriando-se do mítico e escatológico que a linguagem pode oferecer e tentando através destes recursos buscar construir ou fortalecer a ideia de identidade nacional calcada no âmago popular.
Escrita em seis dias e tendo uma triagem de apenas oitocentas cópias, pois, seu texto não atraia a atenção de todos os editores, por isso, só foi publicado em 1928, sendo que fora produzido no mês de dezembro de 1926 e revisto em janeiro de 1927. Macunaíma figura hoje como um grande romance da literatura brasileira e, principalmente, modernista, em virtude de conseguir, na prática, abarcar a essência das propostas estéticas do Modernismo, ressaltando seus principais valores, sobretudo, valores novos, tanto no que tange à linguagem, como no plano dos conteúdos. .
Os primeiros anos da estética moderna foram caracterizados pelas investidas de solidificação do movimento renovador e pela divulgação de obras e ideias modernistas.
O Modernismo no Brasil, foi uma ruptura, foi um abandono de princípios e de técnicas consequentes, foi uma volta contra o que era a Inteligência nacional. É muito mais exato imaginar que o estado de guerra da Europa tivesse preparado em nós um espírito de guerra, eminentemente destruidor. E as modas que revestiram este espírito foram, de início, diretamente importadas da Europa. (ANDRADE, Mário, 1978, p. 235)

Apesar da diversidade de correntes e pensamentos, podemos dizer que, de modo geral os escritores modernos defendiam a reconstrução da cultura brasileira centrada, sobretudo, em bases nacionais. Propunham, ainda, a promoção de uma revisão crítica do passado histórico e de nossas tradições culturais e eliminação definitiva do nosso complexo de colonizados, atrelados a valores estrangeiros. Logo, todos esses preceitos estão relacionados com a ótica nacionalista, porém crítica da realidade brasileira.
No início do século XX, uma verdadeira revolução começa a ocorrer nas artes em geral. Na literatura não foi diferente, os escritores se voltam contra o academicismo e rompem com os padrões estéticos vigentes. Avessos às regras, os modernistas propuseram “a liberdade das palavras”, uma nova linguagem.
Um dos autores mais consagrados da estética modernista chama-se Mário de Andrade. Nascido em 1893, na cidade de São Paulo, Mário Raul de Morais Andrade foi um dos maiores, se não o maior expoente do Modernismo. Diplomou-se no Conservatório Dramático Musical, onde lecionou História da Música. Escreveu para diversos jornais. Foi funcionário público, fundou museus, bibliotecas e discotecas. Atuou em quase todos os campos da cultura e, politicamente, militou pela democracia, posicionando-se contra as desigualdades sociais. É um dos principais articuladores da Semana de Arte Moderna.
Em toda a poética de Mário, temos uma luta pela definição de uma língua nacional, nas palavras do próprio autor em seu livro O empanador de passarinho: “Não vou já discutir o problema da língua brasileira que, a meu ver, não existe, embora seja da maior verdade falarmos, da preferência, em língua nacional.” (ANDRADE, 1985, p. 61), e também contendo os preceitos das inovações nos estratos da linguagem da literatura, que vai dos estilos de pontuação até os mecanismos de estruturação do léxico e sintático, pois como afirma Alfredo Bosi em História concisa da literatura brasileira, que basta retirar um poema de Paulicéia desvairada ou até mesmo um trecho de Macunaíma que teremos a impressão da novidade na produção literária em relação às produções literárias dos períodos anteriores ao Modernismo.
Em uma das mais valorizadas obras de Mário de Andrade, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, temos uma mistura de diversos falares das culturas regionais.
M. Cavalcanti Proença, no livro “Roteiro de Macunaíma” afirma que o autor da narrativa do herói faz uma fusão dos regionalismos em todo o corpo da narrativa. Acrescente-se a isso dentro de Macunaíma, os falares indígenas e a ausência de pontuação, na tentativa de aproximação do discurso oral.

ANÁLISE DO MÍTICO E DO ESCATOLÓGICO NA OBRA
Julgamos o objeto desta pesquisa relevante por colocar novamente em pauta algumas questões referentes à linguagem usada por Mário de Andrade na obra Macunaíma. Estas questões se reportam à problemática relativa ao emprego do mito e do escatológico na narrativa, e o porquê da inserção de tais recursos na obra e, o quê isso contribui, de certa forma, para a construção de uma identificação cultural do Brasil, e que a base popular é relevante para sedimentar à construção do retrato identitário nacional.
Vamos apontar para algumas das modalidades dos falares regionais contidos na obra, colocando em evidência a inserção do viés mítico e do viés escatológico na linguagem em Macunaíma.
O próprio Mário teve indecisões ao classificar o livro. Primeiramente o chamou “história”, em um dos prefácios, querendo aproximá-lo dos contos populares pelo muito que de comum possui com o gênero. Mas não era um título preciso, e se lembrou de chamá-lo “rapsódia”. De fato o Macunaíma apresenta, como as rapsódias musicais, uma variedade de motivos populares, que Mário de Andrade seriou, de acordo com as afinidades existentes entre eles, ligando-os, para tornar insensível a transição de um motivo para outro. (PROENÇA, M. C. 1977, p. 7.)
Esta insistência de trazer o popular para suas obras faz com que Mário de Andrade se reporte o Brasil como um todo, tenta costurar os diversos folclores, sotaques, regionalismos e, a partir daí se debruça em dar uma explicação mítica para nosso folclore como um padrão representativo de cultura que emerge do popular. Neste sentido, vale sinalizar a um comentário de Gilda de Melo sobre o processo estrutural e semântico na obra, este aspecto constitui a nosso ver um fundamento que abarca o sentido e o propósito da inserção de algumas alegorias míticas e metafóricas na composição de Macunaíma. Sobre este ponto a autora sinaliza que:
Macunaíma representa, pois, uma meditação extremamente complexa sobre o Brasil, efetuada através de um discurso selvagem, rico de metáforas, símbolos e alegorias. Os recursos de composição acentuam em vários níveis – no tratamento do espaço e do tempo (ambientação do cenário); na caracterização física, psicológica e cultural dos personagens; na distribuição por simetria inversa dos dois grandes movimentos sintagmáticos básicos; no jogo de oposição de dois dísticos; na significação do episódio principal – uma tensão não resolvida, uma contradição que é erigida em traço expressivo no entrecho. De certo modo o livro é – como define o seu autor – “a aceitação sem timidez nem vanglória da entidade nacional”, concebida por este motivo “permanente e unida”, na desgeografização intencional do clima, da flora, da fauna, do homem, da lenda e da tradição histórica. (SOUZA, G. de M. e. 2003, p. 84.)

Neste ponto, a linguagem constitui um recurso primordial, no que tange o fazer literário para fins de valorização – valorização no sentido de clamar por uma subjetividade estética, ou seja, buscar umas singularidades identificadoras e caracterizadoras de uma cultura nacional. Sobre isso, é relevante, neste momento fazer um levantamento de alguns capítulos da obra como Boiúna Luna, Vei, a sol, O Muiraquitã e Pauí-Pódole. Estes três capítulos constituem nesta pesquisa um aparato significativo dentro do contexto mítico e escatológico da linguagem da obra Macunaíma. Para principiar esta análise, colocaremos algumas acepções a cerca das palavras mítico e do escatológico. O mito segundo Malinowski:
O mito cumpre uma função intimamente ligada à natureza da tradição e à continuidade da cultura, com a relação entre maturidade e juventude e com a atitude humana em relação ao passado. A função do mito é de reforçar a tradição e dar-lhe maior valor e prestígio unindo-a à mais alta, melhor e mais sobrenatural realidade dos acontecimentos iniciais. (Malinowski apud Abbagnano, 1970, p. 645)

Esta definição de mito chama a atenção para a própria estrutura da obra, a qual Mário de Andrade, denominou de rapsódia, pois se configura uma amarração de várias narrativas indígenas e populares se concatenando para um fechamento de sentido claro e coeso de uma obra brasileira peculiarmente representativa no sentido cultural e folclórico. No capítulo, Boiúna Luna, contribui para que a formação de nosso caráter cultural seja explicitado e configurado. Neste trecho da obra, a explicação mítica para o nascimento da lua é uma forma de reinvenção e ao mesmo tempo de fortalecimento do lendário popular, por parte do autor. Quando Mário se apropria destes tipos mitos os usa-os de forma a construir elos que venha a amarrar as outras narrativas contribui para o enriquecimento e a completude da cultura enquanto norteadora de um complexo nacional. Este intercâmbio entre as várias narrativas nos meandro da obra dão um sentido amplo para existência de um ideário popular. No momento em que o autor narra que Macunaíma e seus irmãos saem numa jornada pelos “matos misteriosos” e chegam até uma cascata que chora. A cascata era uma linda cunhatã que foi escolhida para servir a Grande Cobra. Mas, acontece que um guerreiro apaixonado pela moça a tira de seu destino de servir a Cobra Grande. A boiúna depois de descobrir que a jovem não era mais virgem a transforma numa cascata e o guerreiro numa planta, chamada mururé. Macunaíma, após ouvir essa história chora e sente desejo de vingança.
A Cobra Grande, que ao mesmo tempo é Capei a Lua, sai das águas para enfrentar o herói que luta e, salvo pelas suas trapalhadas, mata a boiúna decepando sua cabeça, que depois de muito perseguir Macunaíma e seus irmãos, sem êxito, resolve então se transformar em Lua e ir para o céu.
Mário de Andrade, neste momento da obra, salienta para uma narrativa coletada na região da Amazônia, compreendendo que não é somente o ato de narrar uma crendice ou uma lenda, ou mesmo o mito, mas sim a importância de se colocar o popular como fonte de difusão de marcas folclórica nacionais, isto é, o popular cria e reinventa e ganha status de criador mantenedor de seu falar próprio. Gilda em seu livro Tupi e o Alaúde tenta dar uma explicação para a inserção dessas narrativas míticas na obra, buscando definir este processo de elaboração como uma composição musical sem deixar de ressaltar o imaginário popular.(...) todo o percurso da obra de Mário de Andrade tem dois pontos de referência constantes: a análise do fenômeno musical e do processo criador do populário.” (SOUZA, G. de M. e, 2003, p.11)

Dentro dessa mesma perspectiva podemos compreender o discurso escatológico na linguagem da obra Macunaíma. Para tanto, vamos compreender melhor a acepção de escatologismo:
Segundo o dicionário Aurélio, Escatologia remete-nos as seguintes acepções: “estudo sobre excrementos”; “linguagem obscena” e a segunda: “tratado sobre os fins últimos do homem.”
Para a adequação de nossa pesquisa, iremos nos apropriar das primeiras acepções (“estudo sobre excrementos” e “linguagem obscena”). Escatologia, segundo Eneida Maria de Souza:
A escatologia é um dos temas mais explorados nos textos ditos populares, sejam eles literários ou paraliterários, caracterizados por uma linguagem que zombam das manifestações próprias do discurso oficial. (SOUSA, Eneida Maria de, 1999, p. 50)

No capitulo, Vei, a sol, fica-nos claro que a presença da “sujeira metafórica” (SOUSA, 1999), evidencia o escatologismo no processo de enunciação da obra, traz-nos uma compreensão metafórica da constituição do narrar um mito, se apropriar dele e transformá-lo para uma outra semântica, isto é, “o signo torna-se um signo com valor de troca, circulando sob vários registros e produzindo redes de sentido conforme o contexto no qual se encontra.”(SOUSA, 1999, p.50-51). Macunaíma, após ter dormido embaixo de uma palmeira, um urubu defeca sobre o herói, depois de se levantar de seu sono, pela madrugada sente bastante frio, pede para alguns astros celeste para o levar para o céu, pois se encontrava deveras desanimado com este mundo, todavia quando se aproxima destes, logo a frase vinha “ Vá tomar banho!”, até que encontra Vei, a sol, a qual ele sempre dera bolinhos de bolo-de-aipim para a Sol lamber e secar. Ela pede para que suas filhas limpem o Herói e promete umas delas para casarem com Macunaíma, após ter ficado limpo, porém com uma condição, que Macunaíma não viesse a praticar relações sexuais com outras cunhatãs. Mas o Herói não obedecendo tal condição vai brincar com uma vendedora de peixe, varina.
Em outro capitulo intitulado Pauí-Pódole, Macunaíma quando aguardava o gigante Piaimã, encontrava-se reflexivo sobre a diferença do português escrito e o português falado em um dia que se comemorava o dia de flor, encontra-se com uma cunhatã que lhe oferece uma rosa dizendo que custavam mil réis, como o herói não sabia o nome do buraco da camisa o qual a moça teria colocado a flor, fica totalmente contrariado e começa a pensar que a denominação buraco da camisa seria orifício, porém, segundo o herói, ele ficaria envergonhado e não falaria orifício, pois as pessoas somente falam, mas não escrevem. Desta forma, Macunaíma muito assarapantado diz para aquela vendedora não fincasse aquela margarida no seu puíto, ela sai bestificada com esta nova palavra que o Herói havia criado seria de fato uma palavra da língua culta, e, portanto, deveria ser divulgada e pronunciada. Passado uns dias, uma alemãzinha que andava com Macunaíma pede para que ela colocasse uma flor em seu puíto, neste momento ele ficou assarapantado mais uma vez e quis zangar, porém, lembrou-se que fora inteligente. Note-se que nesse capitulo, a criatividade de Macunaíma em criar um neologismo, permiti-nos compreender que o popular pode criar, pode contribuir, pode sustentar e fundamentar bases para o processo de identificação nacional.
O etnógrafo alemão Koch Grünberg, em seu livro Vom Roraima Zum Orinoco, Koch-Grünberg (1872-1924) foi um dos maiores nomes da etnologia brasileira e esta foi a sua obra mais importante, resultante da sua segunda expedição científica ao Brasil em 1911-13. O primeiro volume descreve a viagem pelo rio Branco até Roraima, o Uraricuera, o Ventuari e o Orinoco; tem tradução ao português, Do Roraima ao Orinoco, Vol. I, São Paulo, UNESP, 2006. O segundo volume traz os mitos e lendas dos grupos de Roraima; tem tradução ao português, "Mitos e lendas dos índios Taulipang e Arekuná".
A mitologia indígena rezava que alguns índios dos tempos remotos não tinha ânus e por tal motivo defecavam pela boca, parece-nos bastante sugestivo que Macunaíma ganhasse metaforicamente um ânus – metaforicamente no sentido de ganhar uma linguagem europeia, o português culto. Mário de Andrade ao valer-se desta alegoria nesse capitulo, mostra que a arte de criar recursos identitário, faz parte do ser brasileiro e que o Brasil é constituído de padrões basilar de linguagens popular que o identifica.

CONCLUSÃO
Diante de tudo que já foi abordado, concluímos que tanto o mítico quanto o escatológico, fazem parte deste processo de criação de uma identidade nacional. Todavia, como amarrar estes artifícios? Como empregá-lo em sentido lógico e coeso dentro do processo enunciação da obra?
Sobre estas problemáticas colocamos o capitulo Muiraquitã como um pano de fundo e como um fio condutor para cozer todo entrelaçamento dos mitos, lendas e todo discurso escatológico existente na linguagem da obra. Observa-se que dessa forma, Macunaíma ao enfrentar diversas peripécias em busca do amuleto, costura as narrativas, entrelaça, dar um sentido lógico para o entendimento do emprego destes recursos no âmbito do processo enunciativo da obra. A partir dessa amarra, compreendemos que o imaginário popular solidifica uma base para formação de uma identidade nacional. Este trabalho nos foi de suma importância, pois colocou-nos diante de uma obra pilar de nossa cultura, sobretudo o que tange sua linguagem e seus aspectos estéticos e representativos de nossa nacionalidade literária.

REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicolas (1960). Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Mestre Jou.
ANDRADE, Mário de. Aspectos da literatura brasileira. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1978.
__________, Mário de. O empanador de passarinho. 2º ed. São Paulo: Martins,
1985.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 36º ed. São Paulo: Cultrix, 1994.
KOCH-GRÜNBERG, Teodor. Do Roraima ao Orinoco. Observações de uma viagem pelo Norte do Brasil e pela Venezuela durante os anos de 1911 a 1913. São Paulo: UNESP/Instituto Martius Staden, 2006 b. v. 1.
PROENÇA, M. Cavalcanti. Roteiro de Macunaíma. 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, MEC, 1977.
SOUZA, Eneida Maria de. A pedra mágica do discurso. 2 ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
SOUZA, Gilda de Melo e. O Tupi e o Alaúde: Uma interpretação de Macunaíma. São Paulo: Duas Cidades/Editora 34, 2003.







1 Graduado no curso de Licenciatura Plena em Letras – Habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará.
E-mail:tonicarlosja@yahoo.com.br




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